quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Desregulamentação das profissões: e a Biblioteconomia?

Quando dei nova dinâmica a este blog, prometi a mim mesmo que iria estipular uma periodicidade em minhas postagens, determinada por, pelo menos, uma semana para atualizações. Determinei também que iria postar atualizações aos sábados, para facilitar a leitura daqueles que acessam este espaço.
Entretanto, vendo que a discussão sobre um novo tema se desenrola na postagem anterior, sobre o CBBD, me senti motivado a escrever e publicar antecipadamente um texto pertinente ao assunto. Coincidentemente, a própria discussão sobre o tema a ser abordado também se desenrolou no Congresso, em reunião com a ABECIN. Enfim, aqui se fará o espaço de discussão e debates “apimentados”, e assim espero que seja.
A discussão em questão se refere à “desregulamentação das profissões”, debate que envolve uma imensa quantidade de profissionais, inclusive bibliotecários, e que dará uma reviravolta no mercado de trabalho, caso se concretize. O fato é que o “agito” já começou, só quem está dormindo pesado é que não ouviu o barulho.
Sua evolução pode até assustar, devido à aparente formulação in continenti de seus pressupostos ideológicos e legais, mas não é bem assim. O debate não é novo e provavelmente não terá fim tão logo, embora decisões isoladas possam aquecer ainda mais a construção efetiva da idéia. Decisões como o parecer do ministro Gilmar Mendes, presidente do Superior Tribunal Federal, e sua declaração sobre o futuro das profissões, em especial, naquela ocasião, da profissão de jornalista. Tudo isso pareceu abalar o pensamento dos “inexoráveis” conselhos de classe, sindicatos, federações e afins, que já se reúnem para medidas de proteção.
Muitos defendem a extinção da exigência de curso superior para atuação em determinadas profissões, e que o diploma não representa, e eu concordo, o conhecimento que o indivíduo possui sobre alguma área. Sabe-se que o diploma não é a garantia de empregabilidade, e sim o conhecimento adquirido pelo profissional ao longo de sua formação, que não cessa na graduação.
No entanto, abrir mão de uma seleção prévia de profissionais é transformar o mercado em um caos profissional, analogia ao nosso “caos informacional”, indubitável em sua existência. Acaba por permitir que pessoas envoltas em silogismos erísticos sobre suas competências e habilidades assumam o lugar dos profissionais realmente capacitados para a função.
Não é uma questão de atender somente às demandas empresariais, mas de dar à sociedade um profissional qualificado em suas atividades técnicas, científicas e, sem dúvida alguma, sociais.
O “autoritarismo brasileiro” citado por alguns defensores da desregulamentação das profissões, ao mencionarem a inexistência de regulamentação em países do continente americano e europeu, “evoluídos” em seus pensamentos, fixa um descrédito nesse que é o modelo viável à garantia de trabalho aos profissionais em seus vários filões do mercado, que é o modelo brasileiro.
As bandeiras da liberdade e da democracia não podem ser o arrimo para permitir que qualquer pessoa se dirija como o profissional almejado, desde um rábula no lugar de advogados, ou uma “tiazinha” no lugar de bibliotecários. Claro que excessos devem ser verificados e combatidos como, em minha opinião, o exame da Ordem dos Advogados do Brasil, que se coloca totalmente contrário a liberdade do exercício da profissão em um Estado democrático de direito; e o oportunismo de uma elite escondida atrás do sindicalismo altamente corporativista.
Nesse contexto todo, a Biblioteconomia também precisa se posicionar, e seus profissionais devem dialogar sobre a situação, se colocar, seja a favor ou contra a desregulamentação profissional, para que não sejam pegos de surpresa quando o estopim vier, se é que ainda não veio. Quem acha que está seguro em suas bibliotecas, arquivos ou outros locais deve repensar sua posição.
Para finalizar e abrir a contribuições dos pares, expresso uma colocação que pode parecer que vem de encontro a muito do que eu disse, mas destaco que nós, bibliotecários, devemos em primeiro lugar, buscar a verdadeira auto-regulamentação, que é traduzida pelo conhecimento e reconhecimento da sociedade, ao ver nossa profissão como imprescindível meio de mudança e desenvolvimento, o que não ocorre nos dias atuais. Mas enquanto isso, mantenha-se a regulamentação.
Aberto a considerações.
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10 comentários:

  1. Se assim continuar... A tendência é piorar! Pois bem, vamos ao ponto. Inicialmente, a desregulamentação, particularmente, de nossa área, é uma questão muito difícil de se consolidar, todavia, necessária! A Biblioteconomia, como área do conhecimento, em nenhum outro momento da humanidade foi tão útil e necessária à produção de conhecimento. Sua condição, que sempre deve estar acima dos bibliotecários, não pode ficar sob a capacidade inoperante e estática da grande maioria dos profissionais que se dizem representá-la. Ressalta-se, neste momento, que se a informação é o nosso insumo de trabalho, de fato devemos nos preocupar, pois ela também é insumo de trabalho de diversas outras áreas. Vale lembrar que bibliotecários, que buscam intermitentemente, sua atualização e aperfeiçoamento de suas habilidades e competências, têm desenvolvido seus serviços em diversas outras áreas e ambientes, o que evidencia uma ruptura paradigmática em relação a suas condição enquanto profissional da informação. Há bibliotecários desenvolvendo projetos de capatação de recuros, gerentes de projetos, gestores de informação e do conhecimento, gerentes de TI, consultores em Inteligência Competitiva, e por tudo isso e muito mais é que eu pergunto: Os cursos de BIblioteconomia brasileiros têm formado profissionais com essas habilidades e competências? Creio que não! Acontece que vivenciamos a "era da informação", e juntamente a ela, ações como a desregulamentação de profissões. Isso nos leva a refletir sim... Até que ponto seremos útil a sociedade? Precisamos sim de uma formação transversal, que nos propicie atuar em qualquer espaço, que necessariamente, precise de um profissional multidisciplinar. Que venham os excelentes, extraordinários, sejam de qual área for. Importa à Biblioteconomia ser cada vez mais útil e socialmente aplicada. O que faz a diferença é o que são, sem dúvida, a capacidade de contribuir de forma efetiva aos anseios socias, e para isso, possuir habilidades e competências, buscadas nas mais diversas áreas do conhecimento é fundamental.

    Abraços
    Prof. Rodrigo Pereira

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  2. A biblioteca já é desvalorizada no Brasil!!!
    Pense bem, se já tivesse ocorrido a desregulamentação da profissão de bibliotecário, o que iria acontecer... muitas bibliotecas de Campo Grande não teriam se desenvolvido nestes últimos anos, e alguns estabecimentos de ensino provavelmente colocariam a frente da biblioteca aquela professora que não teria mais condições de dar aula, (muitos de nós já vimos esse filme) ou como muitos administradores de ensino deixaria o auxiliar de biblioteca ganhando 400 reais tomando conta da biblioteca. Um outro exemplo clássico, em universidades, quando um bibliotecário fica afastado alguns meses a biblioteca vira um caos. Para finalizar, a educação brasileira estava ganhando quando os bibliotecários começaram a ter seu espaço, principalmente aqui em Mato Grosso do Sul. Quem sai perdendo, somos nós bibliotecários ou os usuários da biblioteca?

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  3. A biblioteca já é desvalorizada no Brasil!!!
    Pense bem, se já tivesse ocorrido a desregulamentação da profissão de bibliotecário, o que iria acontecer... muitas bibliotecas de Campo Grande não teriam se desenvolvido nestes últimos anos, e alguns estabecimentos de ensino provavelmente colocariam a frente da biblioteca aquela professora que não teria mais condições de dar aula, (muitos de nós já vimos esse filme) ou como muitos administradores de ensino deixaria o auxiliar de biblioteca ganhando 400 reais tomando conta da biblioteca. Um outro exemplo clássico, em universidades, quando um bibliotecário fica afastado alguns meses a biblioteca vira um caos. Para finalizar, a educação brasileira estava ganhando quando os bibliotecários começaram a ter seu espaço, principalmente aqui em Mato Grosso do Sul. Quem sai perdendo, somos nós bibliotecários ou os usuários da biblioteca?
    Daniel Spengler
    daniel.biblio@bol.com.br

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  4. 1) Se em quatro anos de faculdade, o graduado se sente despreparado para encarar o mercado de trabalho, o que dirá do indivíduo desprovido dessa formação base propiciada pela academia?
    2) A Universidade ou Instituição de Ensino não deve ser estática em relação às mutações do conhecimento e ao surgimento de novos paradigmas. Ao contrário, uma faculdade deve sempre analisar as mudanças necessárias em sua grade curricular inserindo disciplinas que possibilitarão a discussão ou problematização acerca dessas novas abordagens.

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  5. Ahhhh...
    Vossa Excelência Gilmar Mendes, vá procurar algo mais útil para fazer!!!!!!!!!!!!!!

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  6. Vamos lá, quem é o culpado nesta história, nós mesmos?, muitas vezes somos parados demais em nossa profissão, um exemplo com uma gama até razoável de profissionais na nossa área, principalmente em nosso estado MS, quantos de nos estavamos presentes no CBBD em Bonito,nossa terra, poucos, de muitos que já se formaram. Mas como diz o ditado "Santo de casa não faz milagre", mas estamos falando de desregulamentação de profissão, então vamos acordar e lutar pela nossa classe, que discussões assim, realmente venham a contribuir para que muitos de nossos colegas arregassem as mangas e vamos em frente, tem muita biblioteca em nosso Estado com pessoas readaptadas das salas de aula, muito municipio sem bibliotecário. Senão fazermos nossa parte alguém o fará, podem ter certeza....

    Rose Liston / Bibliotecária

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  7. Corroboro com a colega Rose!!
    Alguém o fará, e podemos ver tentativas nesse sentido, como peródicos concursos permitindo que outros profissionais concorram a vaga de "Bibliotecário", obviamente, alterando somente a nomenclatura e colocando algumas outras atribuições. Outro fato claro que foi mencionado, a histórica participação de outros profissionais que assumem as bibliotecas. Tudo isso contribi para que área se torne desregulada, mesmo que informalmente, ou sem amparo legal. Daí para a formalização é um passo.
    O espaço para avançarem é permitido pelo próprio bibliotecário que não procura ser mais dinâmico, se capacitar, interagir com seus pares.
    Nós também ultrapassamos nosso limite profissional, ao prestarmos consultoria em organização de arquivos, por exemplo. Quem permite? O Arquivista que não assume esses lugares.
    Como o prof. Rodrigo disse, tem bibliotecários atuando nos mais diversos cenários do mercado de trabalho. Em contrapartida, tem bibliotecáros, ou graduados em biblioteconomia, que não estão atuando estão nem em biblioteca.
    E o pior? Tem vagas. Claro que não estão todas na capital. Comunicação!!!
    Como se diz, "não tropeça que a fila anda!!"


    Elder Lopes Barboza

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  8. É verdade. Concordo com o Professor Rodrigo, Elder e Rose... Hoje algumas pessoas sabem transformar pedras em ouro. É ser competente em informação, nunca basta a faculdade que concluiu, deve-se levar seu trabalho de monografia adiante, participar de eventos específicos da área... fazer pós na área administrativa, bibliotecária, informática, linguas... É sabido pensar assim!!! É inquestionável.
    daniel.biblio@bol.com.br

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  9. Exatamente Daniel!!

    E que bom que pensas assim, pois esse é o dinamismo qu a área precisa.
    Acredito que quem está nesse ritmo, ou além disso, se sente um tanto isolado e triste pelos ouros que não correspondem e não se fazem atuantes na área, e por isso mesmo que se posicionam a favor da desregulamentação, de modo a forçar os acomodados a acordar pra vida.

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  10. Acredito que a desregulamentação da Biblioteconomia será um retrocesso nas conquistas da área. Obviamente que um diploma não é garantia de reconhecimento e colocação no mercado de trabalho, pois ainda vemos que existem aqueles que passam pela academia "empurrando com a barriga" (com a anuência de alguns docentes)na ilusão de que com um "papel legal" poderão arrumar um bom emprego ($)ou um emprego que seja. Ledo engano, pois sabemos que mesmo para os que passam pelos bancos comprometidos com a sua formação e com a futura área em que atuará a concorrência é grande e acirrada. Obviamente, a educação hoje pede uma linha multidisciplinar de aprendizado, porque assim a sociedade em que hoje vivemos o exige.
    No entanto isso não é justificativa para os que alegam que por isso mesmo o diploma não faria mais sentido, já que um profissional com determinado perfil se encaixaria perfeitamente nas exigências de mercado. Perfil é uma coisa. Técnica é outra. Conhecimento generalista todos devam ter: saber transitar por diversas áreas , ter essa noção do que tem se produzido pelo conhecimento humano. Qualquer profissional de qualquer área que não buscar isso ficará para trás. Refiro-me a escalas de "chance"/oportunidades quando essa disputa é feita de maneira ética e igualitária.
    Para mim, a não exigência do diploma, ou seja, a não obrigatoriedade contribuirá para os favoritismos, paternalismos dos quais poderemos ser vítimas, mesmo sabendo da capacidade que temos. Nós que acompanhamos o início da criação do curso no nosso estado, participando da primeira turma, e conhecendo como era essa relação entre o profissional, reconhecimento da área e mercado de trabalho, vemos como hoje em dia somos muito mais conhecidos (digo, o profissional bibliotecário). Até um tempo atrás, em maior escala – porque isso ainda existe – bastava a pessoa trabalhar em uma biblioteca e já era chamado de bibliotecário. Hoje as pessoas já perguntam: mas você é formado(a) em Biblioteconomia?
    A classe sem sombra de dúvidas ficou mais forte. Lembremos aí quantos cargos de bibliotecários foram criados depois da primeira turma formada... E mesmo nacionalmente falando, hoje vejo que é muito mais frequente e comum a contratação através de concursos do profissional bibliotecário.
    Pensemos todos trabalhando em uma empresa, órgão público que seja numa proporção em que todos menos você não tem o curso de formação em Biblioteconomia e por uma questão de afinidade com o hierarquicamente superior/direção, uma dessas pessoas que nem Ensino Médio muitas vezes tem, fosse escolhido o chefe da biblioteca na qual você está trabalhando?!... Por mais boa vontade que esse “sujeito” tenha, muitas dessas pessoas não tem nem referência de uma outra biblioteca ou centro de informação. Que caos seria na minha opinião!
    Mesmo você tendo esse diploma em mãos que é sim um diferencial no caso da nossa área (também não estou querendo dizer que nas demais áreas não!) já é necessário você diariamente afirmar e mostrar à que vieste, qual a nossa importância; penso que sem ele, a situação seria muito, mas muito mais delicada mesmo.
    Penso que o nível de consciência e conhecimento que temos da nossa área construiu-se (pelo menos parte dela ) dentro da academia e temos um caminho longo dentro da história. A própria história e as necessidades que foram sendo criadas e aparecendo levaram à institucionalização da Biblioteconomia. Hoje quantas não são as pesquisas na área? Quantos cursos de mestrado e doutorado? E tudo isso em prol do usuário. São discussões, debates, estudos, pesquisas científicas que norteiam o caminho dos bibliotecários, com diploma de graduação em Biblioteconomia, e que estamos e somos o intermediário entre esse usuário e a informação.
    Há quem talvez possa levantar: mas não precisamos de um diploma para estudar, continuar com as pesquisas... Não concordo desde já. No entanto, pretendo voltar para explicar meu ponto de vista em dizer o porquê dessa minha negação com tal linha de pensamento. Mas se alguém já quiser se colocar, fique à vontade.
    Tânia Brito - Corumbá/MS

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